Powered By Blogger

terça-feira, 31 de agosto de 2010

O NOSSO SÓCRATES É SOCIALISTA

Leia o artigo do ex-jogador da seleção brasileira Sócrates, publicado na ‘Carta Capital’ dessa semana, sobre o papel do esporte na construção da cidadania.
A falta de educação e de saúde continua endêmica neste País, por isso temos tantos não cidadãos. Apesar da melhora da economia.


Ainda somos pobres. Todos nós sabemos e sentimos isso na pele, nas ruas, nos becos, nas favelas. Deixamos de ser um país endividado, com pouca capacidade de investimento e não baixamos a cabeça para o FMI, mas ainda somos pobres.

Muita coisa mudou em nossa realidade de uns anos até hoje, mas continuamos pobres. Até então, pouco havíamos feito na tentativa de transformar esse quadro miserável. Talvez por não interessar a quem poderia tomar as rédeas desta empreitada. Ou, quem sabe, por falta de coragem de mexer neste vespeiro.

Só havia uma forma de modificar essa situação: lutando para encontrar saídas para enfrentar de frente o problema da pobreza ou, ao menos, capazes de minimizar as carências existentes. Finalmente isso começou a ser atacado, entretanto, continuamos pobres. Por isso, por favor, não venha me dizer que este cenário de exclusão não faz mais parte da nossa sociedade. Não só existe como formam as maiorias. Maiorias que chamamos, hipocritamente, de minorias: pobres, negros e velhos.

Meu velho pai, filho de negro é bom frisar, não teve acesso a escolaridade regular. Nascido em uma família simples, teve de sair às ruas cedo para garantir a sobrevivência da família. Não tinha tempo suficiente para frequentar o prédio onde se ministravam as primeiras noções do conhecimento. Uma educação que sempre valorizou na busca por seus sonhos infantis.

A despeito desse obstáculo, saiu à procura de uma alternativa para ter acesso a essa riqueza. Com a única arma que dispunha – a leitura –, correu mundos atrás de livros que pudessem substituir o que perdera fora dos bancos escolares. Sempre tentando encontrar alguém com quem pudesse trocar os poucos exemplares que possuía. E foi assim que se credenciou para um dia se tornar cidadão. Até porque a cidadania só pode ser vestida se houver conhecimento. Sem isso, a nudez é única companheira.

Agora, de nada adiantaria todo esse esforço se não tivesse saúde. Mas como possuir saúde se, no canto em que nasceu e cresceu, quase nenhum saneamento existia? A cacimba nos fundos da casa fornecia a água tão necessária a uma interminável série de necessidades. Esgoto, nem pensar. A velha fossa, construída nem sempre dentro dos padrões básicos de preservação do lençol freático, recebia os dejetos dos moradores.

A comida era pouca, quase nenhuma. Farinha era o carboidrato disponível o mais das vezes. Tudo isso à luz dos lampiões que forneciam um pouco de luminosidade ao ambiente nos dias em que o querosene estava ao alcance. Eu poderia dizer por tudo isso que ele foi um sobrevivente dessa realidade tão cruel. E só por isso foi um cidadão.

A falta de educação e de saúde continua endêmica neste País. Todos nós entendemos das suas importâncias e gastamos fortunas do pouco que temos para oferecer produtos de baixíssima qualidade. Por isso temos tantos não cidadãos. Apesar da melhora geral da economia, continuamos insistindo com o velho modelo enraizado de há muito. Ninguém mexe no doce.

Para que possamos imaginar que seja possível produzir uma melhora substancial nestes serviços é necessário acreditar que ficaremos ricos de uma hora para outra. Isso não vai acontecer. Temos de inventar uma nova fórmula, mais barata e adequada ao que necessitamos. Temos de iniciar um amplo movimento que ofereça o básico para cada brasileiro nestes dois quesitos.

Para tanto, temos em mãos um mecanismo simples e quase de graça para num só golpe atacar estas duas frentes: o esporte (de novo insisto). Como passamos a vida construindo equipamentos esportivos e tendo áreas livres aos montes, basta uma bola e um educador para produzir educação e promover saúde. Para, no fundo, multiplicarmos a cidadania.

Será que isso se tornará prioritário neste período que nos separa da Copa de 2014 e da Olimpíada de 2016? Será que os estádios e os ginásios a serem erguidos servirão para agregar valor às duas questões mais prementes? Será que o chamado legado que poderá resultar dos investimentos que serão feitos contemplará tanto uma quanto outra? Afinal, de que servem transporte melhor, mais leitos, aeroportos e portos modernos e muitas outras ações se não cuidarmos do nosso povo?

Sócrates é comentarista esportivo, foi jogador de futebol do Corinthians, entre outros clubes, e da seleção brasileira.

domingo, 15 de agosto de 2010

O mesmo figurino. Ou, do mesmo saco

Dilma, Serra e Marina vestem o mesmo figurino. Tanto faz se acusam ou defendem o governo Lula e o governo Fernando Henrique através de críticas periféricas, mas, na realidade, concordam em gênero, número e grau com o modelo econômico vigente. São neoliberais, filhos do mercado e cultores da livre concorrência entre quantidades distintas. Uma promete criar mais 14 milhões de empregos sem lembrar quantos a foram perdidos nos últimos sete anos e sete meses. Outro quer mais 400 quilômetros de metrô nas principais capitais. Sem falar naquela que pretende governar com o melhor de todos os contrários, de Cristo ao Capeta.

Com todo o respeito, nenhum dos três candidatos apresentou até agora qualquer proposta de mudança efetiva na economia, nas instituições ou no plano social. Querem continuar, mesmo aprimorando, a estratégia adotada desde antes dos tempos do sociólogo, pois inaugurada por Fernando Collor, que agora a reivindica, ou até antes dele. Um modelo para privilegiar os privilegiados e massacrar os massacrados.

Qualquer dos três capaz de ser eleito mudará muito pouco o cenário que a propaganda pinta de ideal, apesar de responsável pela sempre maior concentração de renda nas mãos de uns poucos. Como a Plínio de Arruda Sampaio cabe apenas a denúncia, sem chances de vitória, resta concluir que nada vai mudar, nos próximos quatro anos.(Carlos Chagas)